Empresas globais passam a calcular exposição ao risco hídrico

Grandes empresas de diversos setores estão cada vez mais preocupadas com o custo e a disponibilidade do recurso renovável mais importante do mundo: a água, informa o correspondente em Londres da CNBC, Sam Meredith. Ele pinçou vários dados de relatórios de bancos e dos balanços financeiros da próprias empresas para ilustrar essa atenção redobrada ao tema da exposição financeira ao risco da escassez de água. 

Os preços da água estão subindo em todo o mundo. O preço médio aumentou 60% nas 30 maiores cidades dos Estados Unidos entre 2010 e 2019, de acordo com dados compilados pelo banco Barclays. O índice California Water Futures é outra prova disso, com registro de alta de até 300% nos últimos anos.

Segundo a pesquisa do Barclays publicada em junho, o setor de consumo básico global, que inclui desde alimentos e bebidas até tabaco, já identificou a escassez de água como sua “preocupação ambiental mais importante”. Essa exposição ao risco hídrico foi calculada em US$ 200 bilhões pelo banco do Reino Unido.

Essa conta está relacionada à forte dependência de commodities agrícolas, à vulnerabilidade extrema da flutuação do preço da água e a riscos operacionais. Isso inclui a interrupção do abastecimento por eventos extremos, como secas e inundações, além de multas e processos judiciais relacionados à poluição.

A conta do risco

O banco constatou que os comentários relacionados à água nos relatórios das empresas no ano passado aumentaram 43% em comparação com o final de 2019. Isso reflete uma crescente consciência corporativa dos riscos associados à água potável e ao saneamento. A pesquisa calculou que o impacto financeiro potencial do risco da água é provavelmente três vezes maior do que o risco do carbono.

O preço da água não costuma refletir sua escassez, principalmente porque seu uso costuma ser de custo muito baixo ou mesmo gratuito. No entanto, a disponibilidade de água sustenta muitos setores da economia e os analistas do Barclays atribuíram o aumento mais recente nos preços globais da água à crescente escassez do ativo.

O banco estimou que o chamado “custo real” da água era de três a cinco vezes maior do que o preço que as empresas pagam atualmente, uma vez incorporados os custos diretos e indiretos com a escassez de água e outros riscos. Abordar a questão da gestão proativa da água custaria US$ 11 bilhões ao setor de produtos básicos de consumo global, estimou o banco. Isso coloca o custo da inação cerca de 18 vezes maior do que o custo da ação.

Ainda de acordo com o estudo do Barclays, o risco financeiro da escassez de água pressiona empresas com forte exposição agrícola. Companhias como ABF e Tyson Foods, por exemplo, enfrentam um impacto de 22% no EBITDA, sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Outras gigantes globais de alimentos e de produtos de limpeza como Unilever, Colgate e Reckitt Benckiser registram impactos no EBITDA entre 40% e 50%.

Consultada pela reportagem, a Reckitt Benckiser informa que planeja ser “positiva para o consumo de água” em locais com escassez (atualmente, a empresa está presente em 20 desses locais) até 2030. A empresa está ouvindo as partes interessadas ​​para discutir as mudanças climáticas e os riscos hídricos. 

“Reconhecemos o impacto que o estresse hídrico tem nas pessoas, em suas vidas, na saúde e também em nossos negócios”, disse um porta-voz da Reckitt Benckiser à CNBC por e-mail. “É por isso que, por meio de nossas marcas, temos permitido um melhor acesso à água potável e ao saneamento em muitos locais com escassez de água”, acrescentou, citando Índia, Paquistão e Bangladesh.

Reputação

A S&P Global Ratings comentou que, embora a escassez de água “raramente” tenha um efeito direto sobre a qualidade de crédito de uma empresa, a questão pode ter um impacto mais sutil. Esses riscos podem ser físicos, de reputação ou regulatórios.

Na Alemanha, por exemplo, as barcaças de carga no rio Reno, uma das rotas de navegação mais importantes do continente, enfrentaram problemas de carregamento e transporte em 2018 como resultado dos níveis de água criticamente baixos. Isso resultou na paralisação da produção em alguns lugares, com aumento dos custos de fabricação e cadeias de abastecimento interrompidas em algumas partes do coração industrial da Europa.

Enquanto isso, em outros lugares, a Constellation Brands, no México, e a Coca-Cola, na Índia, foram obrigadas a abandonar os planos de construção de novas instalações nos últimos anos após protestos generalizados sobre a quantidade de água que essas instalações exigiriam.

Conteúdo publicado originalmente em: CNBC

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