Um estudo recente da Universidade de Illinois apontou que o uso de água pela indústria agrícola nos Estados Unidos caiu entre 1995 e 2010. Segundo os pesquisadores, as retiradas de águas para as colheitas recuaram 8,3%, enquanto o uso para o gado teve declínio de 14%. A constatação é importante porque a indústria agrícola é a maior usuária de água subterrânea e superficial no país e, junto com a indústria alimentícia, é responsável por cerca de um terço do consumo total.
Segundo artigo assinado por Jordan Strickler para a revista Forbes, isso é resultado de uma combinação de fatores como o aumento da eficiência do sistema de irrigação, o crescimento das safras geneticamente modificadas e mudanças tanto nos hábitos de consumo como nas safras cultivadas.
O articulista destaca que os próprios autores do estudo ponderam que os resultado gerais escondem diferenças que dependem das características de cada cultura. Segundo Sandy Dall’erba, economista da universidade e coautor da pesquisa, é preciso identificar os impulsionadores do uso de água por cultura, pois eles diferem de uma commodity para a outra. Portanto, as estratégias de economia utilizadas por um setor podem não ser relevantes para outra.
Para explicar essa diferença é citado o uso de água para grãos, frutas e vegetais, que foram beneficiados no período pela maior eficiência dos sistemas de irrigação, por alterações na renda doméstica per capita e pelas vendas para a indústria de processamento de alimentos. Nesses casos, quanto mais eficiente fora a irrigação, menor será a demanda de água. Quando a demanda por frutas e vegetais caiu durante as crises financeiras de 2005 a 2010, por exemplo, isso afetou o uso da água.
Por outro lado, a demanda por água das oleaginosas teve um aumento de 98% no período. A explicação está vinculada à cadeia de abastecimento internacional. Empresas estrangeiras, principalmente na China, compram uma grande quantidade das safras de sementes oleaginosas dos EUA para processamento.
Para ilustrar essa interdependência, o artigo cita números do Exiobase, um banco de dados da cadeia de abastecimento global, que incluem a água que é incorporada à produção em todas as fases do processo, desde colheitas e pecuária até o processamento dos alimentos processados e a interconexão do agronegócio global. Safras produzidas nos EUA, por exemplo, podem depender de fertilizantes fabricados em outro país. Da mesma forma, a soja produzida pelos norte-americanos pode ser usada para processamento de alimentos na China ou para alimentar o gado europeu.
Guerras comerciais também desempenham papel importante porque podem gerar mudanças nesses vínculos da cadeia de suprimentos. Quando os embates entre EUA e China aumentaram em anos recentes, as importações de sementes oleaginosas pelos chineses migraram para a América do Sul e para a Europa. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos exportaram menos soja e carne suína para a China. Com isso, menos água foi incorporada a essas exportações. Com a nova administração nos Estados Unidos é esperada uma melhora nessas relações comerciais para os próximos anos.
Outra mudança importante que trouxe impacto no uso da água ocorreu nos hábitos alimentares da população. Os norte-americanos passaram a consumir menos carne bovina e mais frango e é sabido que a carne branca requer 3,5 vezes menos água por quilo produzido. Também por conta disso, o uso de água para o gado recuou 14% em 15 anos.
Conteúdo publicado originalmente em: FORBES