Universitários do Pará criam sistema de filtragem Amana Katu, a “chuva boa”

O empreendedorismo social pode ser uma ferramenta poderosa para garantir o direito ao acesso à água potável para comunidades ribeirinhas na Floresta Amazônica.

Estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) estão investindo nisso, informa o Draft, portal sobre a inovação disruptiva no Brasil. 

Esses estudantes criaram a Amana Katu, um negócio social baseado num sistema de filtragem da água da chuva de baixo custo.

O nome da empreitada vem do tupi-guarani e significa “chuva boa”. A ideia é aproveitar a abundância hídrica da região para resolver o problema da falta de acesso à água tratada e saneamento básico

Ou seja, transformar a abundante chuva da região em água potável. Segundo a empresa, até agora quase 7 mil pessoas já foram impactadas diretamente, recebendo água limpa.

O sócio fundador da Amana Katu, Noel Orlet, venceu em outubro de 2019 a etapa nacional do Global Student Entrepreneur Awards (GSEA). Essa premiação de empreendedorismo é voltada a projetos de universitários. 

Como nasceu o projeto

A Amana Katu nasceu de uma ideia de purificar a água por meio da energia solar. Um protótipo chegou a ser desenvolvido em 2017, mas a solução se mostrou muito cara e complicada para o público-alvo.

Segundo Orlet, a aproximação com a população a ser atendida mudou o conceito original e também a tecnologia a ser aplicada. Optou-se por um solução mais simples de operar e de baixo custo.

Minicisternas

A inspiração para o sistema atual veio de uma tecnologia social de minicisternas criada para combater a crise hídrica que atingiu São Paulo entre 2014 e 2016. 

O sistema usa, basicamente, três materiais: tubulação, tonéis de plástico e filtros. Os tonéis são reaproveitados da indústria alimentícia, onde eram utilizados para armazenar e transportar azeitonas.

Cada bomba tem capacidade para 240 litros. Instalado nos telhados das casas, esses equipamentos captam a água da chuva e a submetem a quatro barreiras de tratamento sanitário.

Um primeiro filtro elimina impurezas maiores, como folhas e galhos. Depois, um separador descarta a primeira água da chuva. A sobra disso já pode ser usada em casa para fins não-potáveis, como limpeza.

Por fim, a água restante passa por um tratamento com cloro e por um filtro de carvão ativado, saindo própria para o consumo humano. 

Caso o cliente opte por usar a água captada apenas para fins não potáveis, há também uma versão sem o filtro de carvão.

Parcerias e custos

A Amana Katu trabalha muito com parcerias negociadas com empesas. A Mariza Foods, por exemplo cede os tonéis. A Amanco Wavin doa tubulações, calhas e filtros. 

Outras empresas adquirem os sistemas completos para doação. A Ambev, explica Noel, comprou sistemas para beneficiar 30 de seus produtores de guaraná em comunidades rurais de Maués, no Amazonas.

Atualmente, o sistema básico sai por R$ 550, valor até 52% mais baixo que o oferecido por concorrentes. Cada expansão do sistema, para atender a residências e famílias próximas, custa R$ 250.

Já foram instalados 37 sistemas no Pará. Mais 100 pessoas podem ser beneficiadas para cada equipamento. Outros 30 sistemas já foram vendidos no estado do Amazonas e aguardam instalação.

Entre setembro de 2018 e o mesmo mês de 2019, a empresa faturou R$ 42 mil. A cada cinco produtos vendidos, um é doado para uma família de baixa renda.

Agricultura Familiar

A empresa tem um outro produto em desenvolvimento, voltado para a agricultura familiar. Ele está em fase de testes, numa parceria com a empresa de tecnologia agrícola Nufarm. Sua aplicação é o uso da água da chuva na irrigação da lavoura. 

Pequenos agricultores da cadeia produtiva do açaí na ilha ribeirinha do Combu, no Pará, já fazem o uso da Amana Katu. Eles utilizam a água coletada na lavagem do açaí, diminuindo o consumo hídrico e evitando a contaminação do produto.

A expectativa é que o sistema chegue a Minas Gerais, numa parceria com a Nexa Resources. A ideia é beneficiar até 60 pequenos produtores em comunidades rurais de Vazante e Paracatu.

A expansão não se limitará ao Brasil. O plano é vender as soluções para países como Zimbábue e Filipinas. O motivo é que esses locais vivem um paradoxo semelhante ao da Amazônia, com muita chuva e índices baixos de acesso à água potável.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em: Draft

Fonte da imagem : Draft

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