Fazendas verticais dos Emirados Árabes buscam segurança alimentar e menor estresse hídrico

Com apenas 12 dias de chuva em média por ano, menos de 1% de terras agricultáveis, vastas regiões desérticas e uma taxa de importação de alimentos de 80%, os Emirados Árabes Unidos parecem um lugar desfavorável para se instalar uma fazenda. 

No entanto, foram exatamente essas condições desfavoráveis do ponto de vista climático que impeliram o país a investir milhões em tecnologias pioneiras. Uma reportagem da rede de TV alemã Deutsche Welle (DW) destacou uma dessas soluções: a agricultura vertical.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, estse tipo de fazendas podem se apresentar como uma solução viável para a segurança alimentar da região. 

Essa agricultura não precisa de solo: as plantas são empilhadas umas sobre as outras em fileiras, com as raízes imersas em água rica em nutrientes. Este sistema – chamado de hidroponia – usa 99% menos água do que a agricultura no campo. 

As plantas ficam sob luzes LED, que conduzem sua fotossíntese e as condições de cultivo são controladas digitalmente. Temperatura, umidade, luz, água e nutrientes das plantas são monitorados por um computador, que ajusta constantemente os níveis de acordo com as necessidades das plantas. 

Segundo o Fórum Econômico, isso também significa que as fazendas podem ser instaladas em qualquer lugar, desde que haja eletricidade e acesso a água destilada. No futuro, essas fazendas poderão ser vistas em instalações de exploração de petróleo e gás offshore, por exemplo.

Circuito Fechado

Sky Kurtz, fundador da Pure Harvest Smart Farms, afirma na reportagem da DW que algumas pessoas acreditavam que ele estava louco quando contou seus planos de plantar tomates no deserto. 

Kurtz é um dos vários empresários que usam técnicas de alta tecnologia para aumentar a produção agrícola nos Emirados. A Pure Harvest construiu a primeira estufa com controle climático em Abu Dhabi em 2017. 

A Aerofarms é outra empresa que recebeu financiamento do Escritório de Investimentos de Abu Dhabi para construir a maior fazenda vertical coberta da capital, com 800 safras diferentes. “O cultivo de folhas verdes no campo leva de 30 a 40 dias. Podemos cultivar a mesma safra em 10 a 12 dias”, diz Marc Oshima, cofundador da Aerofarms. 

A tecnologia aplicada usa um mínimo de terra e até 95% menos água do que a agricultura convencional. O sistema hidropônico é considerado como de “circuito fechado”, que captura e recircula toda a água, em vez de permitir que escoe, prática muito útil para um país como os Emirados Árabes, que sofre de estresse hídrico extremamente alto.  

Desafios de sustentabilidade

Claro que ainda há desafios a serem superados porque o país pode estar extraindo água subterrânea mais rápido do que ela possa ser reposta, de acordo com o Centro Internacional de Agricultura Biossalina (ICBA).

 “A água é muito cara nos Emirados Árabes Unidos, mas a energia é barata porque é subsidiada”, diz Jan Westra, desenvolvedor de negócios estratégicos da Priva, empresa que fornece tecnologia para fazendas verticais.

Esse consumo de energia também é desafiador porque o ambiente controlado artificialmente nessas fazendas verticais consome muita energia. 

O sistema de ar-condicionado e as luzes LED precisam de uma fonte constante de eletricidade e essa geração no deserto pode ter um alto custo ambiental. 

A maior parte dessa energia vem de combustíveis fósseis, que emitem carbono, ao mesmo tempo em que o país do Oriente Médio sente os efeitos das mudanças climáticas. 

“Investir mais em energias renováveis ​​é um objetivo nosso”, afirma Kurtz, da Pure Harvest, à DW. Ele diz que a empresa não estabeleceu uma meta de energia limpa, mas está trabalhando em vários projetos de energia verde, incluindo um plano para integrar a energia solar em suas operações. 

Willem van der Schans, pesquisador especializado em cadeias de suprimentos na Universidade de Wageningen, da Holanda, diz que a sustentabilidade e a energia limpa devem ser “inerentes à tecnologia e incluídas nos planos ao iniciar uma fazenda vertical”. 

Ele argumenta que muitas empresas agrícolas verticais não são sustentáveis ​​em termos de energia, pois ainda veem a energia limpa como um “complemento” opcional.

Esses questionamentos são rebatidos por Fred Ruijgt, especialista em agricultura vertical da Priva. Ele argumenta que é importante ponderar fatores como transporte e refrigeração na equação de energia. 

A agricultura vertical realmente usa mais energia para o cultivo do que a agricultura tradicional, mas como as safras são cultivadas localmente, não precisam ser transportadas por via aérea, marítima ou de caminhão por longas distâncias.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em: DW

Fonte da imagen: DW

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