Escassez de água precisa ter a mesma atenção que as mudanças climáticas

A mudança climática e a escassez de água estão fortemente relacionadas. À medida que a temperatura aumenta, há mais evaporação e isso leva a um aumento adicional da temperatura. A consequência são secas, inundações, furacões e a expansão de terras áridas. 

Shaz Memon, fundador da instituição de caridade Wells on Wheels, alerta em artigo que não é possível concentrar esforços nas mudanças climáticas sem tentar resolver seu efeito mais urgente: a escassez de água.

O filantropo lembra que o ativismo pela mudança climática está sempre em voga, mas que a água nem sempre faz parte da conversa. 

Ele argumenta que governos e corporações têm definido suas metas ‘neutras em carbono’, mas pergunta: quando serão vistas declarações de neutralidade de água na indústria agrícola. 

Outra questões levantadas são: quem são os ativistas pela água; onde estão as convenções de água do G20?

Conflitos e desperdício

Memon lembra que a escassez de água é a “mão invisível” por trás de muitas das crises humanitárias que enfrentamos hoje. Por exemplo, o Iêmen é um dos países com maior escassez de água no mundo, levando a uma convulsão social e política. 

Na Nigéria, a insurgência do grupo Boko Haram em 2010 resultou de uma demanda por água potável. E um dos principais fatores por trás da guerra civil na Síria foi a seca e, portanto, a escassez de água. 

O autor do artigo pede um esforço adicional dos governos. A Cidade do México, por exemplo, enfrenta crises constantes de falta de água. No entanto, dados oficiais sugerem que mais de um terço da água transportada nos encanamentos da cidade é perdida devido a vazamentos. Isso equivale a uma perda de um bilhão de litros por ano.

Risco de preços

Para Memon, a entrada do capital financeiro no setor pode agravar o problema. Ele conta que o Goldman Sachs considera que a água pode ser o ‘ petróleo do século 21 ‘. Por conta disso, fundos de última geração estão comprando suprimentos de água em uma tentativa de obter lucro à medida que a disputa por água se intensifica. 

Ele discorda que comercializar água e enviar um ‘sinal de preço’ forçaria os governos e as indústrias agrícolas a usá-la com mais sabedoria. 

A explicação é que o acesso à água potável é um direito humano fundamental e inatacável. Portanto, não deve ser comercializado. Se o preço aumentar demais, seriam as pessoas mais pobres do mundo que perderiam o que é um direito, não um produto de luxo. 

Ou seja, o acesso à água deve ser protegido e aumentado por meio de investimentos e políticas corretas. 

Buscando soluções

O artigo sugere que práticas como irrigação, cultivo de cobertura e sistemas agroflorestais mais eficientes podem ajudar a reduzir o impacto da indústria sobre a água. 

Também é sugerido um imposto semelhante ao cobrado sobre o carbono. Essa taxa incidiria sobre grandes multinacionais e poderia subsidiar o investimento em infraestrutura hídrica para populações mais pobres.

O conceito de reciclagem de água também deveria merecer a mesma atenção que a reutilização de matérias-primas recebe no mundo ocidental.

Outra ideia é conseguir mais investimentos para organizações como a pouco conhecida organização UN Water. Organizações e instituições de caridade menores também podem receber parte desses aportes. 

Memon lembra que a África do Sul enfrentava uma forte crise hídrica em 2017. Na ocasião, a mídia e o governo local começaram a se referir ao ‘dia zero’, ou seja, o dia em que o país ficaria sem água.

Ele sugere que talvez o mundo precise em 2021 de uma ameaça de um ‘dia zero’ global. Assim, conclui, talvez as grandes empresas, governos e indivíduos compreendam que o problema precisa começar a receber a atenção que merece.

Esse conteúdo foi publicado originalmente em: Thomson Reuters foundation

Compartilhe

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Share on whatsapp
WhatsApp
O que você procura?
Iniciativas recentes
Redes Sociais
Receba as novidades do Observatório em seu e-mail

Iniciativas Relacionadas

Cadastre-se e receba as atualizações do SDG