A Índia é um país onde calcula-se que mais de 163 milhões de pessoas não têm acesso direto a água potável e em algumas regiões ainda existe o drama extra da contaminação dos poucos recursos hídricos.
Como o governo não consegue garantir esse fornecimento básico, a missão tem sido assumida por organizações não-governamentais e por braços de responsabilidade social de grandes empresas.
Em Assam, estado localizado no nordeste do país, a ONG Gramya Vikash Mancha (GVM), em colaboração com a Tata Water Mission (TWM), desenvolveu um tipo de caixa eletrônico (ATM) de água ligado a um sistema de purificação para reduzir a perigosa concentração de arsênico das águas subterrâneas da região.
O arsênico ocorre naturalmente nos aquíferos de Assam. O rio Bramaputra carrega partículas de óxido de ferro quimicamente ligadas ao arsênico desde o Himalaia. Essas partículas são decompostas por micróbios, liberando o arsênico nas águas.
De acordo com o The Third Pole, plataforma multilíngue dedicada a promover a informação e discussão sobre a bacia hidrográfica do Himalaia, um habitante local pode se dirigir a um dos caixas eletrônicos e carregar recipientes com água apenas usando um cartão de débito.
O sistema de purificação utiliza uma resina de troca iônica baseada em nanotecnologia para remover os perigosos poluentes.
Preço definido por consenso
Segundo Bhaben Deka, um morador da comunidade de Barigaon que faz parte do comitê de gestão de água, o caixa eletrônico produz diariamente 4.650 litros de água potável. Isso atende cinco vilarejos em um raio de 3 a 4 quilômetros da máquina. Normalmente, até 250 aldeões podem ser contados na fila do caixa eletrônico todos os dias.
Deka também providencia a entrega de água nas casas das pessoas que têm dificuldade em transportá-la ou que moram mais distante.
Os usuários do caixa eletrônico de água podem optar por pagar 30 rúpias indianas (equivalentes a US$ 0,4) por 20 litros, ou uma taxa mensal fixa de 210 rúpias (US$ 2,82). Segundo o morador, o preço foi escolhido por consenso entre os habitantes e existem famílias mais pobres que não precisam pagar para usar o ATM.
Antes da instalação do caixa eletrônico, a água local vinha de um poço tubular, que bombeava água subterrânea com traços altos de arsênico.
Segundo dados do Ministério de Jal Shakti, que supervisiona todo o setor de água e saneamento na Índia, poços contaminados com arsênico são um problema que afeta mais de 1,6 milhão de pessoas no país.
Mesmo quando o governo marca alguns desses poços com tinta vermelha, as pessoas continuam a usar essa água por falta de alternativas.
Casos de câncer
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), água com arsênico em concentração acima de 10 microgramas por litro não deve ser bebida. Mas pesquisas da GVM apontam que poços tubulares ao redor de Barigaon continham 240 microgramas de arsênico por litro.
Pessoas dessa comunidade foram diagnosticadas com câncer na boca e vesícula biliar e tiveram outros sintomas de envenenamento, como verrugas nas palmas das mãos e dor abdominal.
Em fevereiro, Rattan Lal Kataria, ministro responsável pelos recursos hídricos, disse à assembleia estadual que existem 1.247 habitações afetadas por arsênico em 12 dos 34 distritos de Assam.
O distrito de Nalbari, onde estão localizadas as aldeias de Barigaon e Kothora, é o mais afetado pelo envenenamento por arsênico em Assam, com um total de 454 habitações.
O governo estadual informou que tem planos de instalar 172 caixas eletrônicos semelhantes para prevenir o envenenamento por arsênico em Assam, após o sucesso do modelo em Barigaon.
A reportagem do The Third Pole ressalta que o principal desafio não é a tecnologia, mas a cooperação. A sustentabilidade de tais iniciativas depende do apoio e do entendimento das instituições locais e nacionais, o que nem sempre acontece.
Esse conteúdo foi publicado originalmente em: The Third Pole