A escassez de água vai mudar a percepção do público sobre o valor desse recurso e levará governos e empresas a mudarem suas estratégias sobre essa questão. A água limpa não será mais vista como uma commodity a ser explorada, mas como um bem precioso.
Essa é uma das conclusões da pesquisa global ‘Poll on Water’ realizada em conjunto pela GlobeScan e a SustainAbility. O estudo ouviu mais de 1.200 especialistas internacionais em 80 países.
A pesquisa também buscou identificar quais as tecnologias ou mudanças de comportamento se mostram mais promissoras para lidar com a escassez de água nos próximos 10 anos.
As 19 respostas consensuais são as seguintes, de acordo com o site Circle of Blue:
1 – Educação para mudar o consumo e o estilo de vida
Lidar com a próxima era de escassez de água exigirá uma grande revisão de todas as formas de consumo, desde o uso individual até as cadeias de suprimentos das grandes corporações. A tarefa mais crítica é garantir que o problema seja melhor compreendido em todo o mundo.
2 – Novas tecnologias de conservação de água
Em áreas onde os aquíferos estão secando e a água da chuva é cada vez mais imprevisível, a inovação é necessária. É preciso observar que, ao lidar com a escassez de água doce e desenvolver tecnologias de conservação, o consumo de energia deve ser ponderado.
3 – Reciclagem de águas residuais
Em março de 2021, os palestrantes do Dia Mundial da Água recomendaram uma nova mentalidade para o tratamento de águas residuais. Um exemplo citado foi o de Cingapura, onde há uma busca pela autossuficiência em água por meio da reciclagem e redução da importação. Essa água reciclada é aplicada para vários usos, incluindo beber.
4 – Melhorar a irrigação e as práticas agrícolas
Cerca de 70% da água doce do mundo é usada para a agricultura. Melhorar a irrigação pode ajudar a fechar as lacunas de oferta e demanda. Práticas de irrigação antigas e gastadoras enfraquecem a capacidade dos agricultores de fornecer alimentos para um mundo em crescimento. Em alguns casos, como nos sistemas agrícolas na Califórnia, há histórias de sucesso com uma simples melhoria do que já estava em vigor.
5 – Preços adequados para a água
O preço e os direitos da água precisam andar de mãos dadas e os consumidores questionam cada vez mais o benefício dos preços mais altos. Ainda que existam defesas de que um aumento dos preços pode ajudar a reduzir o desperdício e a poluição, os atuais sistemas de tarifação das concessionárias de serviços públicos estão obsoletos. Ou seja, enviam sinais errados e precisam de reforma.
6 – Usinas de dessalinização com eficiência energética
Até o momento, a dessalinização tem sido uma solução para a escassez de água com uso intensivo de energia. Mas já estão sendo feitas inovações. A Arábia Saudita está promovendo um novo tipo de dessalinização com usinas movidas a energia solar. A Inglaterra, por sua vez, adotou instalações de pequena escala para a agricultura.
7 – Melhorar os sistemas de captação de água
Paquistão e Índia, dois países que enfrentam alguns dos piores efeitos da mudança climática, estão reformando os sistemas de coleta de água da chuva. Esses esforços fornecem controle independente dos recursos hídricos.
8 – Governança e parcerias baseadas na comunidade
Em abril, grupos indígenas se reuniram em conferência de mudança climática na Bolívia para discutir parcerias internacionais entre grupos sub-representados. Essa governança mais eficaz na base dará às comunidades estatura e pode levar a mudanças políticas eficazes em escala nacional.
9 – Melhores políticas e regulamentações
A pesquisa também descobriu que a maioria das pessoas considera que cabe aos governos garantir que as comunidades tenham acesso à água potável. Portanto, os governos precisam redefinir seu papel. Os Estados Unidos, por exemplo, estão considerando expandir a Lei da Água Limpa para garantir mais proteção na área.
10 – Gerenciar ecossistemas holisticamente
O gerenciamento holístico é uma abordagem prática e de bom senso para supervisionar os recursos naturais. Ele leva em consideração objetivos econômicos, culturais e ecológicos. Ou seja: o todo é maior do que a soma de suas partes e cada faceta está relacionada e influencia as outras. Exemplos de gestão holística são as comunidades que operam estações de tratamento de esgoto enquanto negociam com produtores de energia limpa. Nesses locais, as águas residuais são usadas para fertilizar algas ou para culturas de biocombustíveis.
11 – Melhorar a infraestrutura de distribuição
Uma infraestrutura deficiente é devastadora para a saúde e a economia. Ela desperdiça recursos, adiciona custos e diminui a qualidade de vida. Também permite que doenças de veiculação hídrica evitáveis se espalhem entre populações vulneráveis, especialmente as crianças. O problema não se limita ao mundo em desenvolvimento. Os canos estouram regularmente nos Estados Unidos, gerando alertas de aquecimento. Sistemas de tratamento de esgoto no país regularmente transbordam e funcionam mal, causando o fechamento de praias.
12 – Reduzir as pegadas hídricas corporativas
O uso industrial de água é responsável por aproximadamente 22% do consumo global. A pegada corporativa inclui a água que é direta e indiretamente consumida enquanto os bens são produzidos. À medida que a manufatura sustentável se torna mais importante, especialistas questionam os custos de um setor da indústria em particular: o da água engarrafada.
13 – Construir estruturas de cooperação internacionais
Acordos internacionais vinculantes para questões de recursos naturais são difíceis de alcançar. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2009,em Copenhague, é uma prova disso. Os acordos regionais relativos a corpos de água transfronteiriços ou compartilhados, como o Pacto dos Grandes Lagos nos Estados Unidos, e o acordo da bacia do rio Nilo, na África, são igualmente difíceis de ratificar. Tratados de orientação humanitária, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de água potável da ONU, indicam que estratégias globais abrangentes são possíveis.
14 – Abordar a poluição
Medir e monitorar a qualidade da água é essencial para a saúde humana e a biodiversidade. Esta questão surge em muitas formas e pode ser tratada de muitas maneiras. Sejam a ecoaventura de David de Rothschild em um navio de plástico ou o documentário de Joe Berlinger sobre o petróleo contaminando a Amazônia equatoriana. Ao mesmo tempo em que garante a qualidade da água potável e em nível local, é essencial construir pontes internacionais para soluções.
15 – Acesso equitativo aos recursos públicos
Um dos principais Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) das Nações Unidas é garantir o acesso à água potável. Enquanto as etapas para atingir esse objetivo são debatidas, a tese de que a água é um direito básico entra em cena. Enquanto países como o Chile tentam reformar os direitos da água, os políticos dos EUA estão considerando como esses direitos afetam a proteção federal do Lago Michigan, uma das maiores reservas de água doce do mundo.
16 – Incentivo à P&D e à inovação
As comunidades provavelmente buscarão no futuro parcerias público-privadas que utilizem as capacidades inovadoras das empresas. Cidades que operam estações de tratamento de esgoto vão preferir parcerias com produtores de energia limpa para a fertilização e produção de biocombustíveis.
17 – Transferência de tecnologia em projetos hídricos
As consequência mais dramáticas das mudanças climáticas são sentidas nas regiões em desenvolvimento, como o noroeste da Índia e a África Subsaariana. Uma solução proposta é transferir tecnologias de conservação de água para essas áreas secas. Fazer isso é complicado porque as economias são frágeis. E também existem lacunas nas habilidades que muitas vezes obrigam o governo e as autoridades a impor essas mudanças aos cidadãos locais.
18 – Mitigação das mudanças climáticas
Mudanças climáticas e escassez de água são questões que têm uma relação recíproca. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) informou que as políticas e medidas de gestão da água podem ter influência nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). À medida que as opções de energia renovável são buscadas, o consumo de água dessas táticas de mitigação deve ser considerado. Isso em todas as alternativas, desde cultura ligadas à bioenergia até as hidrelétricas e usinas de energia solar.
19 – Controle do crescimento populacional
Por causa do crescimento acelerado da população global, algumas regiões do planeta poderão observar uma lacuna de oferta e demanda de até 65% nos recursos hídricos até 2030. Atualmente, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. E com 70% da água doce do mundo usada para a agricultura, o papel crítico da água na produção de alimentos deve ser considerado à medida que o clima e as condições dos recursos mudam.
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