O ciclo de negócios de água e esgoto na África do Sul ainda é predominantemente baseado na abordagem de economia linear.
Ou seja, permanece na fase do “pegue-use-descarte” que domina outras economias desenvolvidas, subdesenvolvidas e emergentes.
A adoção da economia circular é um caminho para resolver esses desafios. No entanto, a transição de modelos vai exigir uma transformação significativa das cadeias produtivas e dos padrões de consumo locais.
O alerta foi feito pelo gerente de pesquisas da Comissão de Pesquisa Hídrica da África do Sul, John Ngoni Zvimba. Ele apresentou dados de seus trabalhos num workshop em Joanesburgo.
O professor destaca que o modelo tradicional está estagnado já alocou 98% dos recursos hídricos. Pelos seus cálculos a demanda por água no país vai superar a oferta em 17% até 2030.
Em termos econômicos, 36% da água consumida na África do Sul atualmente não é rentabilizada.
Vantagens na Transição
As vantagens de realizar a migração são muitas. Um modelo circular para o setor de água pode, por exemplo, ajudar a extrair o valor máximo dos recursos de água e esgoto e evitar que resíduos desnecessários sigam para aterros.
Também deve trazer estímulos à economia local por meio de novos produtos ou serviços e criar empregos. E pode promover maior produtividade e eficiência, ao mesmo tempo que minimiza o impacto no meio ambiente.
O caminho da transição vai exigir o uso de inovações tecnológicas ou modelos de gestão mais modernos. Com isso, será possível manter a água livre de contaminantes, equilibrar a oferta e demanda e promover o uso eficiente e sustentável da água.
No processo, as concessionárias de água vão precisar mudar seus modelos de negócios lineares para os circulares e buscar diversificação das fontes de água. Isso as tornará mais confiáveis e resilientes, defende o pesquisador.
As cidades também vão precisar participar dessa transformação. Mas terão de criar designs sensíveis à água, realizar uma gestão mais inteligente do recurso e repensar sua administração como centros econômicos verdes.
Até a indústria pode se beneficiar das mudanças e se tornar mais competitiva. Mas também vai precisar de inovação em busca de eficiência, formar parcerias para criação de valor e desenvolver novas habilidades entre seus colaboradores.
A nova cadeia de valor da água deve, segundo o professor, deve focar nos padrões de uso de água dos consumidores. Também vai precisar incorporar tecnologia de detecção de demanda, de vazamentos e de qualidade da água.
Resíduos
Também há muita oportunidade na recuperação de resíduos na África do Sul, sugere Zvimba. 90% dos resíduos gerados no país continuam a ser descartados em aterros.
Também nesse caso, é urgente sair do modelo antigo, de remoção de resíduos e poluição com tratamento incompleto, para o modelo circular.
O professor vê saídas para utilização do lodo fruto do tratamento, como a geração de energia.
O biogás gerado a partir de digestores anaeróbios, por exemplo, poderia compensar de 60% a 80% de toda a energia consumida pela própria estação de tratamento.
Da mesma forma, a recuperação e reutilização da água consumida pode ter múltiplas funções. Pode ser consumida como água potável (fornecida diretamente ou misturada com água bruta). Também pode ser aplicada na área agrícola e industrial.
O uso doméstico não potável, como enchimento de piscinas, descarga de banheiros, irrigação de jardim e lavagem de carro, é outro exemplo. Há ainda uma possibilidade de recarga de água subterrânea nos aquíferos.
Esse conteúdo foi publicado originalmente em: UNESCO